LÚCIA HELENA E VOVÓ MADALENA - 1957
CARTA DE VOVÓ MADALENA, NO DIA DOS MEUS 13 ANOS.
"Minha querida netinha Lúcia Helena,
Abel e Áurea fecharam, com chave de ouro, o seu rosal de rosas perfumadas, desde o dia 09 de julho de 1945.
Hoje, você completa 13 anos - uma idade de privilégios quando nem se é jovem demais e nem idoso, mas, absorvendo o pitoresco da vida que está nos sonhos, anseios, devaneios e nas coisas simples da vida.
Estudiosa e inteligente como é, com certeza saberá galgar os belos degraus da vida e se firmar com escritora, sem negar a origem familiar, da qual me orgulho.
Hoje, minha netinha, em sua data natalícia, ao lado dos seus queridos pais, irmãs e a boa Babá, peço a Deus que lhe ampare e conserve sempre generosa, correta e digna.
A vida, minha querida, apresenta-se favorável às suas futuras realizações. Estude muito. Aprimore os seus conhecimentos e seja sempre essa filha compreensiva e carinhosa.
Um beijinho e toda a proteção de N. Sra. da Conceição, sua madrinha.
Receba o carinho da sua eterna LHENE (Madalena)".
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DAS MUITAS CARTAS RECEBIDAS DO MEU TIO E CORRESPONDENTE - RUY ANTUNES PEREIRA, DUAS SE DESTACAM E FORAM TRANSCRITAS PARA O LIVRO - "MUCURIPE: O MUNDO ENCANTADO DE RUY ANTUNES PEREIRA" (1995).
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"MUCURIPE, 30 DE MAIO DE 1977
LI ATENTAMENTE A SUA CARTA. NÃO SABIA QUE AMAVA TANTO O OITEIRO. COMO DOERAM EM MIM AS SUAS LEMBRANÇAS! CUIDO, POIS, EM ENXUGAR AS LÁGRIMAS DOS SEUS OLHOS SANTOS, COM OS BEIJOS DO MAIS CARO AFETO QUE LHE DEDICO.
FIQUEI COMOVIDO DIANTE DA SUA SENSIBILIDADE REFERINDO-SE AO OITEIRO. DESCONHECIA ESSA SUA AFINIDADE COM A VELHA CASA. ESSA EXPANSÃO DO SEU ESPÍRITO ILUMINOU-ME AS LÁGRIMAS
NOS OLHOS JÁ CANSADOS.
CREIA-ME PROFUNDAMENTE TOCADO PELA SENSIBILIDADE DA SUA CARTA, QUE ME FEZ CHORAR E RECORDAR.
TIO RUY"
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MUCURIPE, MEU MUNDO ENCANTADO, 27 -07-1977
HOJE CEDO PASSEI PELA VELHA CASA DO OITEIRO.
PAREI POR ALGUNS MINUTOS E ENVIEI UM BEIJO ÀQUELE
MODESTO ABRIGO, OUTRORA, RESIDÊNCIA DOS FEITORES E
DEPOIS, DOS NOSSOS PAIS" (COMO TÃO BEM VOCÊ DESCREVEU).
TIVE DE ABRIR BEM OS OLHOS PARA VER MELHOR, ENTRE AS
LÁGRIMAS QUE CORRIAM PELA FACE DESTE
POBRE VELHO.
VI O OITIZEIRO AO LADO, DESFOLHADO, ESCLERÓTICO.
O COQUEIRAL SEM A EXUBERÂNCIA DOS FRUTOS,
AS FOLHAS CAÍDAS AO VENTO, COMO ASAS DE TRISTONHOS CORVOS.
PERDERA A ESBELTEZA. E O OITÃO DA VELHA CASA AFIGUROU-SE-ME
DESNUDO, VARRIDO DAS ACÁCIAS QUE SE ENFILEIRAVAM
PELOS DIAS DA MINHA INFÂNCIA DISTANTE.
NO ALPEnDRE, NÃO MAIS AS REDINHAS BRANÇAS BALANÇANTES.
TRANSPORTEI-ME ATÉ VOCÊ E LÁGRIMAS VIERAM-ME AOS OLHOS,
NA ESTRADA DESERTA, NA PREMATURA HORA DA MANHÃ.
ERGUI OS OLHOS, E O CANAVIAL, PELO MENOS NAQUELES
INSTANTES DE MELANCOLIA, BEM AO LONGE, TINHA OS
TONS DE ESPERANÇAS PERDIDAS.
QUEM SABE PODEREI ATENDER SEUS RECAMOS E REERGUER
O OITEIRO! AFINAL, DOS PÂNTANOS SURGEM OS NENÚFARES BELOS
E SEDOSOS, E AS "BARONESINHAS" LEVADAS, ABRINDO SUAS BRANCAS PÉTALAS, SOBRE UM PEDUTAL DE FOLHAS DOIRADAS E AVELUDADAS!
LEMBRE-SE, LÚCIA HELENA, SÓ NÃO HÁ SABEDORIA ONDE NÃO HÁ VIDA, E A CASINHA BRANCA DO OITEIRO, NESSAS RELEMBRANÇAS
DOLORIDAS, PARECEU-ME UMA SEPULTURA, GUARDANDO OS RESTOS MORTAIS DO PASSADO. POIS BEM, ISSO PODERÁ SER TRANSFORMADO;
PORÉM, JAMAIS SERÁ COMO ANTES".
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(*) RUY ANTUNES PEREIRA À DILETA SOBRINHA LÚCIA HELENA E FIEL CORRESPONDENTE.
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