sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O AMOR DE PEDRO SIMÕES NETO PELOS ANIMAIS, DESCRITO EM SUA PRÓPRIA CRÔNICA.

 
DARA

"Estou ao lado dos que lutam pela defesa dos animais e da natureza. Mas, como sempre faço, pauto a minha atuação pelo equilíbrio, sem exageros, nem fanatismos. Meu pai me dizia que o equilíbrio estava no meio e o que ofendia a saúde física e mental era o abuso, nunca o uso. Amo os animais, especialmente os cachorros, os pássaros, as lagartixas (não tenho explicação para esta última afeição) e os vegetais, em particular as flores. Até onde posso intervir, não permito nenhum saque à natureza. Respeito as rocambolescas investidas do Green Peace em favor das baleias e contra a matança dos animais em geral, das Ongs que recolhem animais abandonados, cuidam das espécies em extinção e montam casas de recuperação para tratar dos bichos feridos. Dedico sincera admiração por aqueles que chegam às lágrimas diante de cenários dramáticos de extinção em massa de algumas espécies e dos que põem em risco a própria vida na defesa desses ideais. Até concordo com a destinação das reservas ambientais nas áreas potencialmente dedicadas à agricultura e, especialmente, à agricultura de subsistência, embora acredite que o planeta é o habitat do ser humano e que, à parte o exagero ou o abuso, só cumprirá essa função na medida em que é sua serventia. Afinal, em última análise, não é somente a consciência preservacionista ou o instinto de sobrevivência que nos impele à militância ecológica, é o compromisso que temos com os nossos descendentes de instituir o legado de um mundo defeso do caos. Mas, creio, no recôndito da minha consciência, que a espécie mais ameaçada é a humana. Porque, desgraçadamente, somos antropófagos. No topo da cadeia alimentar, entretanto, somos dizimados pelos semelhantes. Entredevoramo-nos. Por isso, questiono-me porque não salvamos a espécie sujeita à nossa própria sanha? Precisa de alguma justificativa moral mais vigorosa que a prevenção ao extermínio patrocinado por nós mesmos? Então? Por que não recolhemos as crianças abandonadas, atiradas nas ruas à própria sorte, porque não alimentamos os que vão morrer de fome porque estão abaixo da linha da pobreza, cuidamos dos que vão a óbito porque não têm assistência médica ou vivem ao relento, sem um teto para morar, os desempregados que morrem de vergonha pela dignidade que lhes foi negada...será que é mais difícil lutar pelos semelhantes? É possível que haja certa dificuldade em ampará-los, porque, diferentemente dos animais, os seres dessa espécie pensam, reagem, emitem valores às vezes não condizentes com os nossos, ou porque são independentes e valem-se do seu próprio arbítrio. Ao invés, os animais são tão submissos na sua irracionalidade, tão devotados a nós pela sua fidelidade incondicional, tão subservientes aos nossos humores... Já houve quem me mandasse um PPS amostrando as vantagens de se adotar um cãozinho ao invés de decidir-se pelo casamento, exatamente pela máxima sujeição do animal em contraposição à rebeldia das mulheres. Devemos dotar-nos de uma consciência humanística, e não somente a ecológica. Aprendendo a conhecer, respeitar e conviver com as diferenças existentes entre nós. Exercitar a tolerância e um sincero sentimento de fraternidade. Não temer ficar em “off” em relação aos modismos. É..., porque há quem pense que o humanismo é coisa do passado, é criação ideal dos pensadores medievais, coisa da igreja do Betinho e do Boff, remodelada do Jacques Maritain... uma doença do “esquerdismo” que teima em sobreviver ao maremoto neo-liberal. Vamos resistir a essas (perdoem-me a expressão) idiossincrasias porque a proposta humanística é boa e tem tudo a ver com a febre salvacionista do planeta defendida pelos ambientalistas. Comecemos pela adoção de uma nova vertente na temática dos direitos humanos - o estatuto psicossocial das vítimas, a consideração de uma vitimologia, tal como fazemos com os animais, dando precedência às vítimas em confronto com os seus predadores. Por que estar sempre atento à defesa dos direitos dos agressores, sem qualquer consideração aos direitos das vítimas? Sejam quais forem os transgressores - bandidos, policiais, maridos que agridem as esposas, pais que maltratam e matam os filhos - eles escolheram o seu lado no contexto sócio-humanitário, exatamente à margem da sociedade, e por isso são propriamente denominados marginais. Reconhecê-los como sujeitos de direitos é uma coisa, outra é elegê-los como se fossem eles os agredidos, negligenciando ou subalternizando as verdadeiras vítimas. Mantendo o foco e guardando as proporções, confundir os extremos seria o mesmo que premiar aquele que executa um animal de estimação, ou o submete a maus tratos, ou o abandona. (Bem a propósito, só para esclarecer, evitando que se cometa equívocos, o dicionário eletrônico Houaiss, no verbete “vítima”, define-a como sendo: “pessoa ferida, violentada, torturada, assassinada ou executada por outra”, ou, “pessoa que é sujeita a opressão, maus-tratos, arbitrariedades”.) Perdoem-me os sociólogos, antropólogos, cientistas sociais e economistas, mas cansei-me da tese que nos coloca permanentemente em estado de culpa - aquela que denuncia a sociedade como responsável pela gênese das transgressões. Seria então a injustiça social a criadora dos Frankensteins. Mas, meu Deus do céu, onde há justiça social neste planeta, e se houver um simulacro desse modelo, digam-me se nesse paraíso a criminalidade é inexistente? Cansei-me também daquela desculpa amarela, que nos é conveniente, segundo a qual cabe aos governos cuidar dos necessitados. Bullshit. Nós somos o governo. Nós somos responsáveis pela tessitura humana semelhante à nossa. Então, façamos a nossa parte, como os defensores da ecologia que não aguardam e não requisitam os governos. O ser humano é predador por natureza. Foi o processo civilizatório que reprimiu esse instinto, a partir do despertar de um procedimento racional. Mas, dentro de nós mesmos, habita um animal que, feito certas doenças, mantém-se em estado latente, aguardando um momento para se manifestar. Vamos agir com os humanos como o fazemos em relação aos animais. Avançando, afoitos, contra os predadores, agindo sem preconceitos. Alguém já discriminou um animal por sua cor – branca, preta, amarela, parda? Por ser macho ou fêmea? Observe-se que a legislação ambiental é mais severa com os detratores do meio-ambiente que a ordenação criminal com os homicidas, seqüestradores, estupradores, pedófilos e traficantes de drogas. Essa constatação trouxe-me à memória um episódio ocorrido em pleno Estado Novo. Quando Luiz Carlos Prestes amargava as mais cruéis torturas, confinado a um dos porões da ditadura, o advogado Sobral Pinto, sem alternativas para a defesa do seu cliente, por verificar que os seus pedidos de habeas corpus de nada adiantavam, com a suspensão do Estado de Direito, em desespero, decidiu invocar a Lei de Proteção aos Animais para preservar a incolumidade física do seu maltratado constituinte. Vamos “adotar” as crianças sem lar, famintas, desamparadas, dedicadas aprendizes da escola do vício e do crime; apoiar o assistencialismo, sim! Por que deixar de dar um pedaço de pão, um copo d´água ou a ajuda financeira para a compra de um remédio aos esmoleres que tanto se curvam à humilhação da mendicância para sobreviverem? Será que aqueles que são implacáveis com os pedintes, chamando-os de vagabundos ou lhes acenando, por pura provocação um serviço doméstico que não tem a intenção de oferecer, fazem o mesmo com os animais abandonados, negam comida e socorro aos gatinhos e cachorros desgarrados, aos peixinhos do aquário? Que tese “desenvolvimentista” pode prosperar às custas da inanição, e muitas vezes da morte dos necessitados que buscam um socorro imediato para a sua emergência? E, se a morte é anunciada, como a do personagem de Garcia Márquez, por inevitável fatalidade, argumento usado como desculpa útil para os que entendem a inutilidade do apoio, então que ao menos seja adiada. Um dia a mais fará muita diferença para quem não quer morrer. Recorro sempre a um episódio relatado por Helena, mulher do notável pensador humanista e escritor grego (Cretense) Nikos Kazantzakis, que, em fase terminal de uma leucemia agressiva e impiedosa, teria dito que gostaria de se postar diante de uma imponente catedral para poder esmolar dos transeuntes e fiéis, um minuto de suas vidas, para que tivesse tempo suficiente para concluir a sua obra. Pedro Simões (Professor de Direito aposentado. Advogado. Escritor. Cristão e Humanista, principalmente)"

 NOTA:- Esta foto é da sua cadela Dara, uma akita que morreu no mesmo dia em que ele partiu, a 01/02/2013.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

POSSE DO DR. RICARDO SOBRAL NA ACADEMIA CEARAMIRINENSE DE LETRAS E ARTES, EM 10-02-2015.


EMMANUEL CRISTÓVÃO CAVALCANTI
PRESIDENTE DA ACLA
FAZ A ABERTURA DOS TRABALHOS E UMA BREVE SAUDAÇÃO AO NOVO SÓCIO.
RICARDO SOBRAL
O MAIS NOVO IMORTAL DA ACLA
FRANKLIN MARINHO FAZENDO A SAUDAÇÃO IN MEMÓRIA DE ELOGIO, A FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES E AO NOVO SÓCIO RICARDO SOBRAL.
A MESA DE HONRA
FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES - IN MEMÓRIA - FOI EXALTADO E EXULTADO PELO ORADOR OFICIAL DA ACLA - FRANKLIN MARINHO
O NOVO IMORTAL FALA DE IMPROVISO SOBRE SUA PATRONA - ANETE VARELA
                                           
RICARDO SOBRAL E SUA ESPOSA
 MEMBROS DA ACLA
MEMBROS DA ACLA
SAYONARA MONTENEGRO - SECRETÁRIA E VICE PRESIDENTE DA ACLA, E JOVENTINA SIMÕS DE OLIVEIRA LEVANTARAM-SE DOS SEUS ASSENTOS PARA ENCAMINHAREM O NOVO SÓCIO AO SALÃO, ONDE LHE COLOCARAM A PELERINE  E A MEDALHA
AUDITÓRIO
AUDITÓRIO
 
AUDITÓRIO
 
AUDITÓRIO
 
COM OS TIOS E ESTEFERSON SANDIS, PESQUISADOR E HISTORIADOR DO VALE
ATRAÇÃO DA NOITE - SAMYA RAFAELA E CONJUNTO
TURMA CHEIA DE ALEGRIA: CEIÇÃO CRUZ SPINELLI, GERUZA BARRETO, A ESPOSA E RICARDO SOBRAL
 GRACINHA BARBALHO E SOCORRO CAVALCANTI COM AMIGAS CONTERRÂNEAS.
 
RICARDO SOBRAL COM SEU AMIGO E CONVIDADO TADEU ARRUDA CÂMARA
RICARDO SOBRAL E SUA GENITORA
TADEU ARRUDA CÂMARA, FRANKLIN MARINHO, RICARDO SOBRAL, XUXA (EMERSON ELOY DE ALMEIDA) E SUA AMADA GERUZA.
 FRANCISCA LOPES (POETISA E PROFESSORA), LÚCIA HELENA E EDVALDO MORAIS (O CERIMONIALISTA DA NOITE)
GRACINHA BRBALHO E ZÉ LUÍS
LEDA VARELA, EMMANUEL CAVALCANTI E LÚCIA HELENA
FLÁVIA E GIBSON MACHADO 

RICARDO SOBRAL ENTRE FAMILIARES 

MEMBROS DA ACLA 


PRESIDENTE DA CÂMARA DIPLOMA O NOVO SÓCIO
PAULO DE TARSO CORREIA DE MELO E GIBSON MACHADO 
GIBSON E RICARDO 
MESA DE HONRA 
JEANE ARAÚJO TAMBÉM FEZ UMA BONITA EXPLANAÇÃO SOBRE FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES, DE SAUDOSA MEMÓRIA

GIBSON 
GIBSON MACHADO

 PARABÉNS DUPLAMENTE AO NOVO EMPOSSADO,
PELO SEU ANIVERSÁRIO.
AGRADECIMENTOS A EDVALDO MORAIS PELO CERIMONIAL..

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

QUERO AGRADECER - LÚCIA HELENA PEREIRA


QUERO AGRADECER


QUERO AGRADECER. 

QUANDO PEDRO SIMÕES NETO CRIOU E FUNDOU A ACADEMIA CEARAMIRINENSE DE LETRAS E ARTES - ACLA - OBSERVEI, COMO SE FOSSE MAGIA, OU FEITIÇO DE UM NOBRE DEUS, O DESDOBRAMENTO DA ENTIDADE, QUE NÃO RECEBEU NENHUM APOIO DOS PODERES PÚBLICOS. MAS ELE, UM VISIONÁRIO, OTIMISTA E PERSISTENTE, ABRIU UM GRANDE HORIZONTE E FEZ COM QUE A ACLA CHEGASSE AO PATAMAR DEVIDO. 

HOMEM RESPEITADO, PORTADOR DE UM SOMATÓRIO DE CONQUISTAS E, SOBRETUDO, DE UMA INTELIGÊNCIA INVULGAR, ALIADA A UMA GRANDE SIMPLICIDADE, EU DIRIA, UMA SIMPLICIDADE FRANCISCANA, EVOU A CARAVANA PELO GRANDE DESERTO E ENCONTROU SEU OÁSIS. 

AMIGO DOS AMIGOS, COM ELES CONFIDENCIAVA SUAS PREOCUPAÇÕES, ENCONTRANDO SEMPRE, SE NÃO A SOLUÇÃO DESEJADA, A PORTA QUE LHE MOSTRARIA O CAMINHO A SEGUIR. 

HOMEM DE PRINCÍPIOS HONESTOS, A QUEM CONHECI NA INFÂNCIA DO VALE VERDE, RECONQUISTOU-ME APÓS BONS ANOS, QUANDO NOS REENCONTRAMOS, EM NATAL/RN, NUMA REUNIÃO COM ENÉLIO LIMA PETROVICH, O ENTÃO QUERIDO PRESIDENTE DO IHG/RN. ESTAVA SELADA A NOSSA AMIZADE E EU CONVIDADA PARA INTEGRAR O QUADRO DE SÓCIOS DA ACLA. 

JAMAIS VI MAIS BELA PERSEVERANÇA COMO A DE PEDRO SIMÕES. NÃO DESISTIA DE UM PLANO BOM PARA A ENTIDADE E CONSEGUIA EM PARTE, O QUE TANTO ALMEJARA - UMA ACADEMIA LITERÁRIA PARA O VALE! EM 2011 CEARÁ-MIRIM TEVE ESSA GRANDE HONRA: A FUNDAÇÃO DA ACLA, NUMA NOITE LINDA E INESQUECÍVEL. 

EU DIGO OBRIGADA! 

E TAMBÉM AGRADEÇO A GIBBSON MACHADO QUE FOI O PRESIDENTE APÓS O ENCANTAMENTO DE PEDRO SIM ÕES, DEPOIS VEIO EMMANUEL CAVALCANTI, QUE FEZ BONITO E DEU UM BANHO DE COMPETÊNCIA E EMPRESTOU MUITO CARINHO A TODOS NÓS. 

SOMENTE EM MARÇO, JOVENTINA SIMÕES DE OLIVEIRA ASSUMIRÁ A NOVA DIREÇÃO. PEÇO A DEUS QUE CUBRA DE BENÇÃOS A NOSSA ACLA. 

AMÉM.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

COMENTÁRIOS DE EDUARDO CARVALHO SOBRE O TEXTO DE LÚCIA HELENA - SÍNTESE HISTÓRICA DA BRIOSA VILA.







Olá Lucia Helena, tudo bem? 

Somente ontem pude ler seu texto, tão ocupado ando nos últimos dias aqui no trabalho. Bela narração, repleta de sentimentalismo nobre e de valores maiores que, infelizmente, a cada dia se tornam mais extintos. Já disse antes e repito. Seu Vale é lindo! E tal beleza decorre principalmente de uma época áurea relativa a pessoas, valores e princípios que se escoaram, de maneira irreversível, ao longo dos anos. Tal leitura me levou a uma comparação imediata e inevitável de como pode uma realidade vigente há mais de um século ainda ser tão pungentemente superior à atual? Tanto em relação aos lugares físicos, que anteriormente possuíam uma beleza repleta do maior bom gosto e requinte; quanto no tocante às figuras humanas, tão impolutas e comprometidas com o torrão natal. Sofri ao final do texto, ao perceber o quanto o Verde Vale ficou órfão sem os seus engenhos mágicos e poéticos e sem a força de seus ancestrais, que colocavam ao dispor de sua terra todo o seu âmago... Parece até impossível que em pleno século XXI o "Solar Antunes" e o "Guaporé", entre tantos outros daquele tempo, ainda não encontrem qualquer construção moderna que consigam rivalizar-se em beleza, nobreza e como símbolo de uma época áurea. Da mesma forma se dá na essência poética dos seus, que ao meu ver, torna você - a última dos moicanos - a única digna representante literária, que conheço, de "Madalena" ou "Nilo", entre entre tantos outros dantes. Falo tudo isso sem medo de errar, pois o meu "Vale" também passou por idêntica decadência. Nossos domínios foram invadidos pela turba, nossas flores esmagadas, nossos sonhos esquecidos e nossas memórias expurgadas para que fôssemos extintos em definitivo. Contudo, enquanto existirem pessoas que consigam manter viva a tradição de sua terra, tudo estará vivo dentro de cada um de nós. Apesar de tudo, sobreviveremos e seremos os guardiões de tão belo legado. Parabéns pelo texto e pelo Ceará-Mirim antigo, ambos tão belos!

 Forte abraço. 

Eduardo Carvalho

UMA EXPLOSÃO DE AMOR - O CEARÁ-MIRIM EM POSTAL MEMORIOSO - PEDRO SIMÕES NETO, PATRONO DA ACLA



PEDRO SIMÕES NETO
Encontramos, no arquivo virtual desta Academia, a crônica do nosso Patrono (de saudosa memória), e que levamos até vocês. 


Uma explosão de amor ao Ceará-Mirim. O CEARÁ-MIRIM EM POSTAL MEMORIOSO 
Pedro Simões Neto - Patrono da Academia

 O tiroliroli e o tirolirolá de (de)trás-(d)os-montes, fez parelha com o bum bum bum d´Angola, e gostaram tanto um do outro que terminaram se amancebando nos canaviais e pariram pasteizinhos de Santa Clara, beijus e tapiocas, cocadas e vinhos de boa vindima e tome lundu, quadrilhas e umbigadas. E também a calidez e o sestro, a valentia e o rebolar sensual das ancas generosas das negras minas e dos frutos proibidos da casa grande com a senzala. O caldo de cana, a rapadura, o mel de engenho, o açúcar dito impropriamente bruto. E as brincadeiras de roda, as estórias de trancoso das senhoras baronesas e a dos ancestrais pretos velhos contadas pelas mucamas. O seu povo, ai Jesus! gente devota de Nossa Senhora da Conceição, de uma morenice que nenhuma terra tem; quando não é na pele, é na alma inteirinha tingida pelas raízes atávicas. Ah, Ceará-Mirim, Ceará-Mirim. Bendito os que nasceram nesse torrão de açúcar, com olhos de uma estranheza azul esverdeada porque lá o canavial e o céu criaram novos tons para essas cores; até mesmo os que os tem pretos ou castanhos, ficam com os olhos de maré, virando verde ou azul, furta-cores, ao sabor do sol sobre as marés. Meu Ceará-Mirim memorioso, às vezes caduco, vidente e cego, generoso e unha de fome, solene e moleque, religioso e profano. Terra de tanta fartura de inteligência que deu ao Rio Grande do Norte e ao Brasil uma grosa de gente afamada pelos escritos, pelas músicas e pelos atos de civismo. É tão grande a fartura que já serviu de comida aos porcos e ainda teve sobra pra quem quisesse. Mas tem um porém: o lá-em-cima e o lá embaixo das ladeiras vem sugestionando o povo. O velho e querido Bacuipe dos potiguares, sobe e desce que nem a sua topografia. Entre crises de desmilingue e garapas de silenciosa e fervorosa esperança, a cidade para no tempo, recolhe-se ao passado, esconde-se do futuro com medo do escuro. Quando chega a esse ponto, não tem jeito que dê jeito, tem-se que ir aos tororós dos antanhos para arrancar do memorioso passado uma razão para seguir sendo. Por isso, de vez em quando ando pra trás, que nem caranguejo. Tenho orgulho de ter bebido a água do Jericó e do Diamante, e endurecido a pele com a água salobra do Olheiro. Por isso que tenho couro grosso. Vivi sem encanamento nem saneamento, que era coisa de lombo de burro e de barris e de fossa com sumidouro. De ter atravessado as noites tenebrosas sem luz elétrica, fugindo dos lobisomens, bestas-feras e homens da capa preta. O candeeiro e as lamparinas não ajudavam e até atrapalhavam com aquelas sombras virando imagens e se mexendo que nem almas penadas... De ter morado na rua São João, num bangalôzinho danado de jeitoso que dava as costas ao cemitério, acordando todos os dias com a “baba dos defuntos”, segundo diagnóstico de Almerinda, o nosso anjo da guarda cor do ébano. (Não é pra me gabar, mas fui crismado por Frei Damião, em uma das suas missões e o meu padrinho foi o Monsenhor Celso Cicco, amigo do meu pai. E comi carne muitíssima mal passada, quase crua e sem sal num “cozinhado” de brincadeira feito por minha irmã Jojó e Teresa de Jorge Moura. E numa festa da padroeira ouvi de uma mocinha mais velha do que eu respondendo a uma proposta de namoro, que fosse “tirar o cheiro do mijo”) Êê Ceará-Mirim velho de guerra Dei uma ruma de “canga-pé” no Rio dos Homens; fui atleta de voleibol no Centro Social Leci Câmara e zagueiro do tipo “a bola passa mas a perna fica” do “Bacardi Futebol Clube”, organizado e patrocinado pelo finado Agnelo Sobral, representante dessa bebida. Fui aprovado no vestibular de macheza do Cipó de Maria Boca Rica e do Céu Azul, ´inda menino, quase de cueiros. Tive a regalia de ser protegido de Antonio Mulato, o cabra mais valente da região. De ter sido peladeiro com bola de borracha e tornozeleiras nos campos da maternidade, do motor e do cemitério. Fui dançarino meio sem jeito, depois afamado pé de ouro, no Náutico, no Ipiranga e no Centro. Amigo de Minhém, Zé Félix, Antonio Domingos, Lulu, Paíto, Humberto “mofado”, Zé Roberto de Rafael Sobral, Zé Araken, Quinca boi, Mário Eugênio botador d’água e astro do Náutico Esporte Clube, de Misael violonista, Lourival bexinguento. Membro efetivo da “Turma da Esquina de Chico Dantas”, privando da companhia inteligente, laboriosa e esperançosa de Duca Moreira, João Batista, Ademar Araújo, Poti, Hamilton Dantas, Sizenando, Emanuel Cavalcanti, entre tantos outros. Tomei banho de chuva de bica e corri chapinhando contra a correnteza das águas que desciam do Patu buscando o rio nas invernadas. Vi a cheia cobrir a ponte do Maceió e lavar o aterro. Fiz coro com os palhaços na chegada dos circos, andei atrás da banda de música. Vesti roupas e sapatos novos apertados na festa da padroeira. Ganhei entrada de cinema como prêmio de leitura no “Externato São José” do extraordinário educador José Tito Júnior. Fui aluno de dona Auta, mãe de Maria Xandu – que Deus as tenha – e de dona Lourdes de seu Agenor, mulher de Lulu da farmácia. A benção dona Edite, poeta inédita por vocação e genética, mãe de meu amigo Quinca, Ísis, Janete, Vicente e o jovem Agenorzinho. Vibrei com os seriados, comédias, desenhos e dramas do cinema de Jorge Moura, uma fábrica de sonhos. Comprei cavaco chinês e confeitos a Inácio Magalhães de Sena e balas Cuquita a Chico Dantas. Cortei cabelo com Erso, pai de Bubu da mercearia. Fiz política comunitária com Chicó Evangelista e Sebastião Palhares e votei em Emanuel Cavalcanti e depois Sebastião Palhares e Franklin Marinho, sucessivamente, para vereador. Nunca transferi meu título de eleitor para ter um pretexto de estar ligado à minha cidade. Andei no primeiro ônibus que fez a linha Ceará-mirim a Natal, de propriedade de Lauri Farias. Comi pão quentinho com a manteiga escorrendo nos cantos da boca na padaria de João Neto. Tomei sorvete e picolé no carrinho de Zé Gago e me fartei de tabletinhos de maracujá pecaminosos de tão gostosos feitos por Dona Ester. Ensinei História e Ciências na Escola Técnica de Comércio da paróquia, com 16 anos de idade. Passarinhei pelas bandas do Diamante, Capela e Várzea de Dentro, Lagoa Grande e Ilha Bela. Menino ainda defrontei-me com a visão do paraíso – Muriú, em seu esplendor ainda na juventude dos veraneios – e duvidei: será que Deus fez alguma coisa mais linda do que isso? Privei da amizade, menino ainda e já ligado aos mais velhos, de Clóvis Soares, Leó Cavalcanti, Manoel Pereira, Betinho Dantas, Major Onofre Soares, Aluizio Pipilza, Cleto Brandão, Chicó Pereira, Antão Barreto, Edson Cavalcanti, Chico Padre, Doutor Canindé, seu Aurelino, Paulo Sobral, João Neto, Jorge Moura, Valmir Varela (dona Celina foi minha professora de piano), o velho e saudoso Manoel Marques, José Costa, Chico Leopoldino, Rafael Sobral... são tantos ...e me deixei levar pela memória aperreada contrariando a recomendação de que o esquecimento de nomes tira mais créditos do que se conquista pela menção. Corro esse risco. Que dirá dos “anjos” da cidade: Luci Varela, Rosa Brandão, as Alices, de doutor Canindé e de Manoel Marques (Leda Marques de Hélio Venâncio tem a quem puxar), Dona Sinházinha de tão curta lembrança, madrinha de Auta, esta, mulher de Otávio Leandro que vendia coco na feira e assinava ponto todos os dias no “Café de seu Cleto”, dona Hilda Buriti, irmã da poeta Anete Varela... E dona Santinha, minha gente, cria da casa de Manoel Pereira, com uma asma renitente, sem saber que a sua criação de gatos era o motivo maior da doença...! Como o poeta Neruda confesso que vivi. Ceará-Mirim é o meu porto seguro quando velejo pelos incertos mares da memória, e não me venham com porquês, ora! Porque lugar bom para atracar o barquinho solto num tempo de tsunamis, é onde a gente se sabe protegido por uma estória cheia de calmarias.