quinta-feira, 19 de abril de 2012

FRANKLIN JORGE DIVULGA CARTA DE NILO PEREIRA ESCRITA EM 1984.

FRANKLIN JORGE
NILO DE OLIVEIRA PEREIRA - 1909 +1992

A carta abaixo reproduzida foi escrita há 26 anos pelo escritor cearamirimense radicado no Recife, ex-deputado estadual por Pernambuco, secretário de estado e presidente da Academia Pernam-bucana de Letras, Professor da Universidade Federal de Pernambuco, Nilo Pereira, um dos grandes humanistas literários do século passado, ganhador do Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Morreu em 1992, aos 82 anos.
Nilo, que conheceu Franklin quando ele ainda era um jovem entrando na adolescência, e desde então criou-se um laço de amizade que perdurou até a morte do autor de “A Rosa Verde” e “Imagens do Ceará-Mirim”, livros canônicos do acervo cultural do Rio Grande do Norte.
Eis o que ele escreveu:

“Recife, 28 de julho de 1984

“Meu caro Franklin Jorge:

“Hoje, você tem me atormentado. Reli livros seus. Principalmente o seu livro-síntese: - Jornal de bolso. Nele o escritor, o poeta, o artista, o homem tudo, corpo e alma, está todo inteiro. Talvez mais corpo do que alma. Mas, sempre espírito. Que talento o seu, meu caro Franklin Jorge!
“Falam muito na sua coragem, inclusive na coragem de ser injusto, como terá sido em alguns momentos com homens e instituições. Eu diria que isso é autenticidade. Você diz o que quer, porque ama a você mesmo. Sabe que a vida é boa de ser vivida enquanto se afirma como um poema escatológico. Como um evangelho escrito a várias mãos.
“Você é neto de Eça de Queiroz e bisneto de Voltaire. Tanto quanto é irmão de Baudelaire. No Ceará-Mirim só houve dois inconformados: você e Juvenal Antunes; dois irreverentes; dois diabos que não blasfemam, porque acreditam em Deus. Satã pensa que você é um dos dele; e Deus pensa a mesma coisa. E, afinal, você de quem é? Creio que dos dois. Um poeta abissal, proclama Antonio Carlos Villaça, nosso irmão em Cristo.
“Como pensei em você, lendo os Poemas Diabólicos & Dois Temas de Satã! Temi pelos seus passos. Para onde vai ele, em sua Divina Comédia? Repetirá o Dante: atravessará as estâncias sobrenaturais e chegará ao Céu, onde já encontrará Juvenal Antunes, o renegado.
“Quem é você, meu caro Franklin Jorge? Eis a pergunta que faço a mim mesmo. Quem o definiria melhor do que Villaça? Veja como você perturba. Hoje, foi um raio que caiu na minha árvore. Porque você vem das grandes trovoadas, como Teixeira de Pascoais. Dos mundos imprevistos. Da sideração das estrelas. Ou do reino de Plutão, horrendo e escuro, de que fala Camões. Veja que é sempre num grande poeta que você termina ou começa de novo.
“Estou, há tempos, para lhe escrever. A tarde vai caindo, como num romance qualquer. Que caia. A fatalidade acompanha o crepúsculo. Nós todos somos seres crepusculares, isto é, em transição da claridade para as trevas.
“Você pluraliza a angústia humana. Vê por mil olhos o drama da vida. Ri de quase tudo; mas também chora. Ninguém está seguro ao seu lado. O mito é você. Sei que Natal está aos seus pés. E você, um jovem Satã, oferece o resto do mundo a quem o adorar. Não precisa. Todos o admiram.

Abraços.

Nilo Pereira”

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